28/06/2008

ALEM DA PASSARELA

Desfiles –

Seu primeiro desfile no Japão depois do sucesso foi em 1978 e significou o seu reconhecimento pelo país de origem.


Em 1982 participou de um desfile em parceria com Issey Miyake patrocinado por um jornal. “Foi impressionante”.


No final da década escolheu o castelo Himeji como cenário de seu desfile. Toda a preparação vai literalmente por água abaixo devido à uma chuva de arrasar. Dois mil estudantes de Bunka estavam presentes para prestigiar o evento. “Fiquei muito triste. Com um guarda-chuva fui me desculpando para cada um”. Talvez um pouco exagerado, o importante é notar em seu relato a preocupação a humanização do grande ícone.




Império -

Com mais de 160 lojas, de Nova York a Shangai, a grife inclui roupas femininas, masculinas e infantis, sapatos, perfumes, bijuterias, bolsas, lenços, óculos, roupas de cama, mesa, banho, moda praia e porcelanas.


Para mulheres, a produção de Kenzo se distribui em três espíritos que sustentam públicos ligeiramente diferentes: Paris, a mais sofisticada, Jungle, para o dia a dia, e Kenzo Jeans, o velho denim do avesso.


A primeira linha de perfumes da marca foi lançada 1988. As fragrâncias eram todas voltadas ao público feminino. O primeiro perfume masculino foi Kenzo pour Homme, lançado em 1991. Elementos culturais do Japão como incenso, água de arroz, flor-de-lótus e chá marcam as essências.



Primeira coleção -

O estilista admite que a primeira vez que se deparou com a questão de “identidade” foi ao abrir sua loja. Antes, preocupava-se com o que estava em voga.


Conta ele que definir uma característica própria foi um tanto difícil pois ele acreditava que imitar os franceses não resultaria em bons frutos. “Aí eu pensei: em que eu posso ser melhor que eles?”. Foi por essa razão que voltou às raízes.


Sua primeira coleção reinventou os quimonos e adotou a malha como tecido base. O conforto e praticidade foram seus objetivos principais. Mas ele admite também que acredita que sua coleção só teve sucesso porque a partir de 1966 as pessoas começaram a aceitar as roupas mais folgadas no corpo.


Depois dessa coleção, Kenzo aproveitou todo o conhecimento adquirido durante a viagem que fizeram de navio até a Europa e decidiu dar um caráter étnico às suas criações. O Brasil também inspirou uma de suas coleções. Em uma das seis visitas do estilista ao país, deixou-se influenciar pela moda baiana.


Devido à sua audácia e extravagância, Kenzo tornou-se um ícone no âmbito das sobreposições e mix de estampas. Tendo os florais como marca registrada, todas as suas estampas são facilmente reconhecíveis.

Kenzo Takada fez sua última palestra do circuito SPFW no Senac Campus Santo Amaro
Senhor dos desafios

Depois de abandonar o império, Kenzo Takada deseja ainda realizar o primeiro de seus sonhos

Ana Carolina Lahr


A palestra mal começara e suas criações mais antigas já rodavam no telão.

“Não me agrada ver peças antigas porque sempre encontro defeitos”, revela provocando risos na platéia. E assim começa sua palestra de despedida ao Brasil.

Kenzo Takada não é o único gênio a estranhar suas obras. Clarisse - Lispector - já revelou em certa ocasião a opção por não reler suas obras publicadas. “Quando leio, estranho, acho ruim. Aí não leio, ora!”, disse ela. Como diria o ditado popular, “ninguém é perfeito”. E ao que se nota, nem mesmo aqueles que dão motivos para crermos em tal feito.

Pelo menos é assim que as criações de Kenzo Takada foram, e são, vistas pelo mundo: perfeitas.

Nascido em 1940, ele sempre se encantou com as ilustrações de Soreyo. O contato com o desenho lhe rendeu o sonho de seguir com a carreira de desenhista, mas a distância das universidades em relação ao seu povoado natal fez com que se matriculasse em uma universidade de língua estrangeira próxima de casa.

A moda? Foi outra vontade sem espaço em meio a tantas delimitações. “Na época - lembra - não existiam muitos homens nas universidades de moda”.

Mas o destino lhe parecia já conhecer seu talento. Pouco depois de começar a faculdade de língua estrangeira, a Bunka College - melhor universidade de moda de Tókio – abriu inscrições para homens. A novidade mais uma vez instigou o desejo do jovem, que juntou um dinheiro e mudou-se para a capital japonesa sem o consentimento do pai.

Em 1958, sua mãe autoriza a entrada na universidade. Começava a sua história.

Na época, o prêt-à-porter ainda não existia e a moda japonesa nem mesmo era reconhecida internacionalmente. Diante disso, o prêmio de So-EN oferecido no Bunka College tornava-se a grande oportunidade em meio à falta de empregos na área. Obter o premio significava ter o nome publicado na mídia e, conseqüentemente, divulgação.

Foi esse o próximo objetivo do artista. Uma de suas amigas conseguiu o prêmio em 1959. “Eu morri de inveja”, revelou mostrando-se um simples mortal. Mas o reconhecimento veio no ano seguinte. Graças ao So-EM de 1960, arrumou um emprego desenhando moldes para uma revista de Tóquio.

Paris

Kenzo lembra-se bem de sua primeira viagem estrangeira. O destino? Paris.

“Viajar era muito difícil na época, mas com as Olimpíadas de Tókio elas foram facilitadas”. Já que era para viajar, que fosse algo bem feito. Seguindo os conselhos de uma professora, ele e o casal Matsuda partiram em direção à Europa de navio.

Era 1 de janeiro de 1965. Depois de um mês à bordo, estavam eles em Paris. “Cadê as luzes?” indagou Kenzo com um pingo de desapontamento. Mas lá estavam elas, na catedral de Notre Dame.

Seis meses era a duração do sonho parisiense e com o dinheiro acabando, a volta estava cada vez mais próxima. “Eu queria ficar mais. Não podia ir embora sem que um estilista francês visse meus desenhos”.

Sem nada a perder, fez algumas criações e saiu para vendê-las. Cinco. Cinco desenhos vendidos. Cindo dólares cada. Por sinal, uma mixaria. Mas o suficiente para encorajar sua permanência em Paris.

O sucesso estava prestes a alcançá-lo. Mais dez de seus desenhos foram vendidos para a revista Ester e Kenzo foi então apresentado a uma confecção prêt-à-porter. “Pareceu um sonho, mas consegui um emprego em Paris”, lembra com orgulho.

Em 1970, inaugurou sua própria loja, a Jungle Jap e juto dela, sua primeira coleção. A decoração da loja inspirou-se no artista Henri Russeou e levou três meses para ser concluída. “Fiquei super feliz quando terminei. Colocamos [Kenzo mais um amigo que lhe ajudou no projeto] uma grama artificial, deitamos e dormimos lá mesmo, embebedados”.

Ele era jovem. “Tinha muita coragem e pouco dinheiro”, recorda.

No final da década de 70 sua empresa estava prestes a falir, mas se reergueu com criações comerciais que passaram a ser muito bem aceitas. Os desfiles tornaram-se obrigatórios em sua trajetória.

Em 89, o estilista passou por uma fase de mudanças. Seu sócio faleceu e ele sentia que não dava mais para acompanhar as mudanças. Para salvar seu império, associou-se à holding francesa LVMH (da conhecida Louis Vuitton). Dez anos depois, realiza seu último desfile. Mas a marca continua. Hoje, está totalmente nas mãos da LVMH, dona de outras marcas como Gucci, Givenchy, Marc Jabobs e Christian Dior.

Estaria ele numa nova fase?

“Sim. Resolvi olhar para mim, me repaginar e começar denovo”.

Em 2002 retomou à criação, mas desta vez o alvo não era mais a indumentária. Aos 68 anos – e muito bem conservado – ele ainda traça desafios: “Quero desenhar e pintar quadros. Quero fazer coisas que nunca fiz dentro do que sei fazer”.Depois de erguido império, Mestre, você pode tudo!



Kenzo no Brasil

Centenário de imigração japonesa é lembrado também na 25 edição do SPFW, que conta com ícones da moda japonesa em seu circuito de palestras


Ana Carolina Lahr




Entre risos e lembranças, durante sua sexta visita ao Brasil, Kenzo Takada realizou um sonho: conhecer a Amazônia. A viagem foi exigência para aceitar o convite da organização do São Paulo Fashion Week para vir para o país mais uma vez - ele não é bobo, não!


Familiarizado com o “país tropical” desde a década de 70, conhecer a capital paulista foi outra novidade para o estilista. Durante o circuito especial em comemoração ao centenário da imigração japonesa, Kenzo se hospedou em São Paulo.


A importância da celebridade foi justificada pelo diretor do SPFW, Paulo Borges, na abertura do evento. Ele lembrou que Kenzo foi o responsável por desviar a atenção da moda dedicada exclusivamente à Europa, há mais de 40 anos atrás. "O mundo passou a ver a moda de uma outra forma. E, se hoje a São Paulo Fashion Week está no calendário de moda como uma das semanas de moda mais importantes do planeta, isso se deve porque os japoneses mostraram que a moda pode vir de qualquer lugar, desde que tenha qualidade, criatividade e inovação.", declarou em matéria do Portal Terra.


O estilista realizou palestras com temas variados como a moda japonesa dos anos 80 e o processo de construção de uma marca. A última delas aconteceu no Senac Campus Santo Amaro no dia 21 de junho, e possivelmente não tenha agradado aqueles que esperavam a revelação do segredo de seu talento ao se desviar do tema previamente determinado - “Criatividade, Marca e Mito”.


A palestra basicamente descreveu sua trajetória de vida como criador – nada mal, para o meu gosto. Como uma exímia jornalista, eu havia estudado sua vida previamente e tive a oportunidade de checar dados coletados na internet – sempre tão suspeita – e encher a biografia de Kenzo Takada com momentos de nostalgia e humanização. Isso, graças à simpatia e conforto inspirados pelo estilista durante a entrevista.


Infelizmente pouco tempo restou para as perguntas pós- interrogatório – será que o culpado foi o atraso inicial de quase uma hora? Eu mesma arrisquei um questionamento, mas meu papel de perguntas parou nas mãos da assistente, como o de tantos outros. Uma pena! Quem sabe da próxima?


Dentre uma das duas perguntas ao final da palestra, Kenzo referiu-se ao brasileiro com a mesma impressão já expressada no decorrer de seu discurso: donos de uma grande energia que inspira desenvolvimento - agrado ou realidade, logo associei sua nacionalidade ao aspecto místico da energia e tomei como um elogio.


Para se aproximar das lembranças do estilista, confira a matéria “Senhor dos desafios”, na seção Famosos.



EXPOSIÇÃO "OLHAR CONTEMPORÂNEO"






(clique nas imagens para ampliar)


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